Maresia-Mar

Este blog será parte de mim, o encontro de amigos e emoções. Serei eternamente criança, azul de alma e coração... O mar, o meu refúgio, o meu porto seguro!

sábado, fevereiro 20

Já é tarde. Para lá da janela caiu a noite e envolveu na escuridão as ruas e casas. Não vejo nenhuma luz. Vieram as nuvens e levaram as estrelas. Deitei-me há já algumas horas mas não conseguia dormir. Fixo o olhar na luz do candeeiro e... «Era uma tarde primaveril, acabáramos de sair da escola. Eramos cinco crianças com 9 anos, cheios de sonhos e as fantasias faziam parte do nosso dia-a-dia. - Ao que vamos brincar hoje?- pergunta a Lina. - Sei lá. - responderam em coro. - Já sei - digo eu- vamos brincar aos príncipes e princesas. Todos concordaram. Havia um campo enorme perto de nossas casas, todo ele era um emaranhado de flores de vários tipos, mas os malmequeres amarelos eram os nossos preferidos. - Olhem, podíamos enfeitar-nos com colares e coroas de flores. Vamos a casa buscar linhas e agulhas - diz a Paula. Lá fomos todos e passados alguns instantes, já estávamos nas nossas traquinices, cortamos várias flores e fizemos enfeites de várias cores e tamanhos. Estávamos bonitos, felizes e a tarde ia ser dedicada à magia. Nós, as três raparigas, todas dada à beleza, estávamos a achar piada aos nossos "trajes", mas os rapazes já estavam a ficar cansados. Eu era quase sempre a líder, era quem mais inventava brincadeiras, os outros seguiam-me quase sempre com prazer. - Vamos fazer um cortejo - digo - quem é a princesa? - Eu - diz a Lina. - E o príncipe? - Eu- responde o Miguel Formamos então uma fila. Os mantos eram formados por fios de malmequeres, papoilas e chupões lilases. Riamos a bom rir, entoávamos canções infantis e dançávamos ao som da nossa própria voz. Corriam os anos 70, eramos crianças livres, apesar de tudo. Eramos felizes, tínhamos espaço, tempo, imaginação e amigos. A tarde avançou rapidamente, estava na hora de regressar, as nossas mães já gritavam os nossos nomes, nós tínhamos feito ouvidos moucos, mas agora tinha que ser... Despedimo-nos como sempre.....» Abro os olhos, tento lembrar-me do que acontecera. Tinha tido um sonho? Ou simplesmente lembranças da minha infância?? (In Memórias minha, 2006)